quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

JJ Redick e cada um na sua

Se você repara no ala JJ Redick de hoje, no Orlando Magic, não dá para imaginar que estamos falando do mesmo atleta que foi um dos homens mais odiados dos Estados Unidos, um inimigo público declarado. Acontecia nos tempos de universitário em Duke, e aí explica-se: era justamente uma das equipes mais odiadas do esporte norte-americano, se não a mais.   

Não pega bem falar em ódio no esporte, mas, no caso dos Diabos Azuis, difícil fugir disso. São conhecidos nos EUA como os filhinhos de papai mais insuportáveis – mas sem a aura nerd-neo-cool do cinturão da Ivy League (Harvard, Cornell etc.). Apenas são os riquinhos metidos a besta que não sabem se comportar na vitória. Esnobes, prepotentes, arrogantes. Tinha o Coach K também vendendo cartão de crédito direto na TV, mas não sei se isso justificaria um motim, embora contribua para o mal-estar.  

No fim, os jogadores nem têm muito a ver com isso, mas, para a América, pouco importa: essa cultura dos esportes universitários é muito, mas muito forte, é talvez o que envolva de mais paixão no esporte norte-americano. Então fica assim mesmo: se joga por Duke, tem de aceitar que é uma pessoa detestável, e pronto. 


Inimigo público número um, JJ Redick sob a orientação do Coach K, seu fã declarado
Se você, então, tinha cara de bom moço e muita atitude e garra, era um coelhinho energético que não parava de se mover, com e sem a bola, estremecia ginásios com suas bombas de três pontos, um gatilho certeiro,  acabou se tornando o garoto-pôster, para o bem e para o mal, dessa equipe. Era o fardo e o legado de Redick, que fez curso e carreira completos em quatro anos em Duke. Ao sair da universidade, era uma superestrela nacional mesmo no esporte amador (amador, no caso, para os atletas-estudantes, que não são remunerados devidamente – caixa dois, propina e um carro para o tio não contam –, enquanto suas instituições lucram uma barbaridade).  

Ao ingressar na NBA, levou um choque de realidade. Envolvido por um frenesi absurdo e já   apontado como alvo por uma penca de oponentes que teriam prazer em superá-lo, para não dizer humilhá-lo, sem nem mesmo conhecê-lo. Redick mal conseguia sair do banco de reservas nos dois primeiros anos de Orlando Magic. Não tinha o respeito de seus companheiros, do técnico ou de árbitros. Ele era só mais um, talvez até abaixo da média, e precisava se reinventar.  

Para encontrar seu nicho, JJ Redick não criou o fogo, não arrasou corações, nem despertou ira. Entendeu sua situação e apenas de um jeito de refinar seu jogo, resgatar a confiança em seu arremesso e desenvolver corpo e capacidade atlética. Passou a estudar VTs de suas partidas e dos oponentes com mais atenção, de modo que não apanhasse tanto na defesa. Nunca vai ser uma figura opressiva como um Andre Igudoala, pelos atributos físicos, mas já não pode ser mais encarado como uma avenida. Evoluiu.   

No terceiro ano, era peça integral do Orlando derrotado pelo Lakers na final de 2009. No quarto ano, teve sua melhor temporada, com 9,0 pontos em 22 minutos por jogo, convertendo 40% dos tiros de longa distância e 86% dos lances livres. Como agente livre restrito, recebeu proposta do Chicago Bulls – os minutos de Kyle Korver eram para ser dele –, mas o time da Flórida prontamente cobriu a oferta. Passado um sexto da atual temporada, recuperado de uma cirurgia ele agora se mostra um melhor passador e praticamente não desperdiça a bola, sinal de que costuma tomar boas decisões com ela.  Um jogador consciente. 

Vale a foto mesmo: chute na pontinha dos dedos de JJ Redick, ex-superestrela

Quando questionado, semanas atrás, se não se incomodava em ficar sempre na reserva, não teve choradeira: "Com certeza eu gostaria de ser titular, acho que todo jogador gostaria de ser titular, mas eu gosto do meu papel pelo Magic e, para mim, qualquer frustração que eu tenha pelos últimos anos seria pela falta de um título da NBA. É nisso que estou focado". Hoje ele é o reserva imediato dos alas Jason Richardson e Hedo Turkoglu.   

Quando questionado, meses atrás, se concordava que as grandes estrelas da NBA (os "franchise players") precisam, mesmo, ter influência nos bastidores de seu clube, principalmente na formação de seu elenco – em referência clara ao que se passa com Dwight Howard em Orlando –, ele foi ainda melhor ao dizer que não sabia o que responder: "Afinal, não sou uma estrela".   

Não é mesmo. Não dá para dizer que o rapaz merecia uma convocação para a seleção norte-americana, que ele vá parar o trânsito (fora de Raleigh) ou a rodagem de um jornal. É um jogador secundário.   

Mas o moral da história é justamente esse:  enquanto Adam Morrison, cujos bigode ralo, cabeleira desvairada, meias coloridas e atos heróicos pela muito mais modesta Gonzaga lhe haviam alçado ao posto de queridinho nacional, seu contemporâneo de NCAA, tenta sua sorte na Turquia, tentando encontrar algum meio de regressar à liga, Redick conseguiu sobreviver. Não há devaneios, ego, luzes. Ele hoje apenas entende qual o seu trabalho e se dedica bastante para executá-lo da melhor forma. 

Não é uma estrela

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